quarta-feira, 25 de abril de 2007

Amanhã


Hoje tive uma discussão meio que inútil com meus assistentes. Acho que me tornei uma daquelas pessoas que desprezava e não entendia quando tinha a idade dos dois (se bem que uma tem quase minha idade). Um total desesperançado com a política. Não acredito em quase nada hoje em dia. Já lutei e debati com muitas pessoas (perdendo até mesmo tardes de trabalho) na esperança de fazer com que eles entendessem que nem todos os políticos são iguais. Lutava para levar a esquerda para o poder; sonhava com uma sociedade mais igualitária e sem os escândalos de corrupção que presenciava. "Vamos mostrar que, quando se quer, pode-se muito"...
Hoje, beirando os quarenta anos, minha desesperança é tamanha que prefiro não comentar nada. Não acredito em mais nenhuma atitude vinda desses homens (e mulheres) do mundo político. Me enojam suas tentativas de parecerem melhores do que os outros. Vejo ladrões de outrora posando de paladinos da moralidade. Enxergo más intenções em todos eles.
Meus assistentes quiseram, como eu quis um dia, transformar a cabeça dura de um velho.
...
Não sei o que dizer, não tenho ilusões... COM NINGUÉM.
Amanhã inicio novo trabalho com outro diretor. Espero que tudo corra bem. Vou fazer um enorme esforço para parecer interessado.
Vou mentir, dizer que o texto é bom (e não a baboseira politicamente correta e oportunista que é). Direi que o filme ficará lindo, que vamos dar "vida" a esse negócio disforme chamado propaganda.
Terei três dias de teste de elenco pela frente, tentando descobrir a "alegria de viver" dos clientes do Banco que assina, e paga, o comercial.
Todo esse ambiente de propaganda me irrita cada vez mais. As fotografias com tons amarelados e esmaecidos. A direção de arte "moderna e descolada" parecendo os anos setenta. As trilhas preguiçosamente pesquisadas. Os elencos manjados. Os egos imensos da equipe. A hipocrisia das reuniões de produção, quando discutimos merda fingindo que temos ARTE.
Se pudesse (ou mesmo tivesse coragem) largaria a área de propaganda. Faria documentários, ficção, shows de música, trabalharia em acervos...
Quem sabe amanhã não é o começo da mudança?