segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

O Circo


Que delicioso sorriso surge da criança ao meu lado. Os cantos da boca se movem rapidamente, no ritmo da piada contada lá no picadeiro.
Me imagino sorrindo assim quando ainda tinha meus poucos anos. Anos idos, anos vividos.
Tenho uma ponta de inveja das risadas soltas da molecada. Sinto falta da ingenuidade de criança; a piada era só isso, uma piada, engraçada e divertida às pampas. Hoje ficamos, nós adultos, tentando achar significados, tentamos descobrir e "apreciar" a estrutura dela, a piada.
A água espirrada pelos palhaços sapeca os rostos risonhos que se escondem e reclamam como quem pede "me molha mais, tio". Os adultos, às vezes se irritam com a molhaceira. Temos vergonha de subir ao palco, pagar um mico. As crianças imploram para serem vistas. Algumas chegam a sair desapontadas por não participarem o suficiente. Nós, ao contrário, saímos aliviados pelo anonimato.
Ontem voltei um pouco no tempo e resolvi participar do espetáculo. Resolvi pagar um "mico". A camisa amarela escolhida em casa talvez mostrasse um desejo escondido de ser visto. O palhaço veio na minha direção e estendeu seu microfone. Perguntou meu nome. Subi, sorri, brinquei e nem sofri muito (a não ser, lógico, os litros de água que minaram nervosos). E sabe o que mais me alegrou? Uma menininha sentada no chçao me olhou e disse que eu estava engraçado lá no palco. Ganhei o dia.