domingo, 29 de julho de 2007

Coisas...

Ando passando os dias em casa fuçando na Internet. Tenho sentimentos conflituosos quanto a isso. Por um lado odeio ficar sem perspectiva de trabalho à vista, uma vez que as contas nunca dão trégua, despencam sem qualquer compaixão. Por outro lado é um tempo para pesquisas (que eu nunca sei muito bem pra que e pra onde vou com tudo isso), baixou músicas, filmes, textos; vejo coisas, escuto outras, descubro novos sites e visito os antigos.

Ultimamente andei atrás de alguns cineastas.
Jia Khangke (chinês) é um deles; assisti a dois de seus filmes, Still Life e Xao Wu. A princípio nada me empolgou muito para justificar a fama de "leading figure of Sixth Generation" como diz o ensaio sobre ele do site Sense of Cinema. Passados alguns dias e os dois filmes não me saem da memória, uma sensação interessante eu diria. Me faz acreditar na longevidade dele como autor, seus filmes, com um despojamento generalizado (ação, câmera, movimentos...) grudam em nossa memória e trazem discussões e visões sérias sobre esse gigante desconhecido chamado China. Questões que nos são menos divulgadas, pois não interessam ao governo chinês (que não permite a distribuição dos filmes de Jia por lá) mais interessado nas pirotecnias visuais da última leva de épicos chineses (Herói, Clã das Adagas Voadoras, A Promessa, Guerreiros do Amanhecer...). Não se enganem, eu gosto de vários desses filmes, mas me interessei pelos modestos (na forma) filmes de Jia. Vou ver mais filmes dele e volto em outro momento com mais coisas.

Outros dois cineastas, esses das antigas que me interessaram no momento são Werner Herzog e John Cassavetes. O primeiro por causa de uma bela entrevista dada à revista Filmmaker sobre o lançamento de Rescue Dawn e o segundo por causa de um documentário sobre Cinema Independente Americano que assisti hoje na tv a cabo (se não me engano chama-se Na Contramão). Estou tentando ver alguns filmes menos conhecidos do primeiro e alguns do segundo que quase ou nada têm lançados no Brasil.
Do Werner são três documentários (Little Dieter Needs To Fly; Fata Morgana; Land Of Silence And Darkness) e um de ficção (Even Dwarfs Started Small) e do Cassavetes os filmes mais famosos
(Shadows; Faces; A Woman Under The Influence e Gloria). Minhas espectativas são grandes pelos artigos que li.

Aproveito meu tempo para ver séries de tv (que prefiro baixar a ter de esperar a boa vontade das tvs do Brasil) e recomendo três delas: Weeds, ótima série, que dá um banho da ultra badalada Desperate Housewives; Dexter, sobre um serial killer que trabalha na polícia (!) e uma série antiga e inédita no Brasil, Black Adder, com Rowan Atikinson, o Mister Bean. Essa série foi considerada numa votação no site da BBC uma das melhores comédias de todos os tempos lá pelos lados da Rainha.

Livros são poucos, e só eu sei como me martirizo pela meu abandono, mas lí dois nos últimos tempos: Harmada, de João Gilberto Noll, que não me tocou muito. Me pareceu um pouco disperso além da conta, mas tem seus méritos e alguns momentos bem interessantes. Gostaria de assistir a versão para o cinema do Capovilla...

O outro livro é uma grande obra; Desonra, de J.M. Coetzee. Recomendo com louvor. Uma narrativa forte e seca sobre a derrocada moral de um professor universitário. Duas coisas me agradam demasiadamente; sua defesa esmagando intelectualmente seus opositores num caso de assédio e sua dificuldade em entender a atitude de sua filha frente à violência que se abateu sobre eles.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Transformers e a imposição do pensamento


Há algo de nocivo no Cinema Americano para massas. Uma certa imposição de olhar que nos força a um tipo de pensamento dominante, no caso o do americano médio, truculento e virado para o próprio umbigo.
Ontem fui ver o novo filme de Michael Bay, "Transformers". Não por vontade ou por goste dele, pelo contrário acho-o um dos piores cineastas do mundo, apesar de sua "maestria" em criar filmes "americanoépicos". Desde do insuportável "A Rocha", passado pelos odiosos "Armagedon", "Pearl Harbor" e no apenas mediano "A Ilha", sua características não mudam, estão lá a câmera lenta nos momentos-chave, a música épica e emocional, as tele-objetivas, o pôr-do-sol amarelado com silhuetas, os movimentos de câmera rápidos, o shake de câmera, a montagem picotada onde pouco se vê, os contra-luzes, o óleo espalhado nos corpos, enfim, todas as coisas que ele "importou" da mais odiosa e inútil das "artes", a propaganda.
O perigo desse tipo de filme está justamente nessa manipulação e anestesiamento dos sentidos do espectador. Camuflado por dezenas de técnicas de construção o filme empurra sua visão de mundo tacanha e paranóica. Michael Bay (mas não só ele) se especializou nesse tipo de filme.
Estou cansado de ver aquele plano da bandeirinha americana tremulando presa num carro ou numa casa. Não suporto ver a "sagacidade" e esperteza dos americanos. A força e caráter dos Militares americanos.
Transformers não se furta de utilizar as mais baixas e insuportáveis técnicas de persuasão do Cinemão Americano. O robô bom principal Optimus Prime tem as cores da bandeira americana. Os diálogos são recheados de piadinhas e "sacadas" para nos fazer rir. Temos o herói anti-herói (Sam, o rapaz que compra o carro) que acaba por ganhar a menina mais linda e gostosa da turma (Mikaela) que namorava um imbecíl jogador de futebol americano (que em um futuro próximo será o marine que lutará até a morte para defender o American Way of Life). Temos os gênios jovens da informática (Maggie e Glen) que conseguem descobrir coisas que os maiores analistas de sitema do governo americano não vêm (claro, todos figurantes). Temos o chefe do governo bonzinho que entrega a salvação do mundo nas mãos de cidadãos comuns (Secretário da Defesa John Keller). Temos o projeto secreto criado há muitos anos com personagens misteriosos, porém engraçados (Agent Simmons). Os soldados bonitos, fortes, pais de família, mas dispostos a tudo para salvar o país (Capitão Lennox e Sargento Epps), e ainda melhor, um branco e um negro para contrabalançar as cotas.
Estão lá também as cenas dos pilotos subindo nas aeronaves americanas no contra-luz amarelado com as mesmas tele-objetivas que o Tony Scott (outro diretor que, apesar de ter filmes bons no currículo, deve-se tomar cuidado) usou em Top Gun.
Os adolescentes (e demiolados adultos da platéia) adoraram, é claro, mas a de se pensar o quanto da ideologia americana foi enfurnada na cabeça deles. A paranóia americana contra as invasões externas, sejam elas chinesas, coreanas, iranianas, russas (ainda!?), ou alienígenas está lá, sendo resolvida por "todo" povo americano, que quando é insultado e instado a fazê-lo torna-se o maior dos heróis. As frases que se repetem para "amarrar" o roteiro (No Sacrifice, no victory; sem sacrifício, não há vitória).

Transformers (e seu comandante, Michael Bay) representa o que de pior se faz no Cinema Americano e mundial, o uso do dinheiro ilimitado (no caso 150 milhões de orçamento) para a imposição de uma idéia através do que parece ser somente um inofencívo entretenimento.
Devemos ficar atentos e prontos a rechaçar esse tipo de atitude.
Cuidado com os Transformers, os 300, os Armagedons, os Top Guns, os Black Hawk Down(s), os Guerra dos Mundos, os Sargento York (isso, o passado também é odioso), os Bay, os Bruckheimer, os Spielberg (sim, ele também em vários casos...) e tantos outros...