quarta-feira, 13 de junho de 2007

Brasil



Ok, ok, ok,
Estava em débito com os filmes nacionais e resolvi aproveitar o feriado para me atualizar. Queria ver três: O Cheiro do Ralo, Baixio das Bestas e Não por Acaso. Pelo que tinha lido e pelo retrospecto dos diretores (Heitor Dhalia, Claudio Assis e Philipe Barcinski) apostava minhas fichas no último deles. O primeiro filme do Heitor (Nina) é fraco... bem fraco. Bela fotografia e atuações esterotipadas (A Nina e sua versão clichê da roqueirinha dark
rebelde...). O do Claudio (Amarelo Manga), apesar de festejado, me pareceu excessivo, com atuações beirando a histeria, cenas feitas só pra incomodar (como as do matadouro) e um discurso que a mim incomoda profundamente, a tentativa de se excluir dos males da gentália brasileira. O "artista" que toca na hipocrisia da sociedade (algo que o famigerado Sergio Bianchi costuma vomitar na nossa cara). Isso sem contar a aparição despropositada do diretor.
Barcinski, do qual havia visto antes o curta Palíndromo, me parecia interessante e o trailer de seu filme me capturou (aliás, verdade seja dita, os três trailers são bem interessantes e cumpridores de seu papel, nos dão vontade de assistir aos filmes sem nos contar muita coisa).
Obviamente, como todos os plano que faço, não consegui realizar a empreitada. Optei por ver os dois mais antigos, Não por acaso acabara de entrar em cartaz e durará (espero) mais algumas semanas.
Vi os dois no mesmo dia (sábado, sessões das 20:10h e 23:20h), o que talvez não seja muito apropriado, uma vez que o primeiro filme acaba não tendo o tempo necessário de maturação em nossa mente para que se forme uma opinião mais duradoura, mas... nas minhas circunstâncias, era o possível.

Baixio: Mais interessante que Amarelo Manga (ainda que os "defeitos" que apontei acima ainda estejam lá, em menor grau). Trata da degradação (por isso bestas) da população de um vilarejo (o Baixio) perdido no meio do Nordeste. A Hipocrisia do Avô/Pai que faz um discurso sobre a falta de moralidade e hombridade do local enquanto pratica um ato muito pior com sua neta é um ponto interessante.
A classe mais abastada do local se parece com uma espécie de mistura entre Kids (Larry Clark) com O Ódio (Mathieu Kassovitz). Amoral e Imoral, sem metas ou esperanças, sonhos ou gratidão. Vive uma vida vazia e egoísta, em busca de uma satisfação Sádica de humilhação da classe "inferior" (no caso as Putas e lavadeiras virgens).
Não há responsabilidade nem comprometimento de ninguém. Não existe nenhum personagem "bom". Existe tão somente os ingênuos e os cegos (que fingem não ver nada).
O que me incomodou nesse filme foi a falta de ir aos limites sugeridos por Claudio, digo isso principalmente na cena do ataque da neta pelo filho abastado da cidade. Assis cria um ambiente de desconforto no espectador mas evita uma encenação mais realista; o ataque me parece por demais coreografado. Não entendo o pudor de Assis em mostrar, por exemplo, o
pau do ator. Todos se viram para que nada apareça. Isso em mim causa um sentimento de afastamento da cena, uma vez que ela foi concebida de forma realista, mas se recusa a continuar nesse tom. Até parece que estão preocupados com a censura de classificação ...
Outro ponto que me desagrada é a invasão da casa do avô, alegórica demais para esse tipo de filme.


Cheiro do Ralo: O vi após, em outra sala de cinema. O filme vem seguido de enorme campanha da crítica e um forte boca a boca, além de prêmios em vários festivais. Já entro com uma "carga" colocada em meus ombros, mas...
O filme tem boas idéias, atuações e soluções interessantes, mas me desagrada muito a insistência (que é compartilhada por toda a publicidade e alguns filmes internacionais) na estética anos 70, "sim, somos modernos e descolados porque gostamos do retrô, do vintage". Ai, ai, ai...
Palmas para o Zé Bob, pela fotografia, para a Bunda, pela "grande atuação" (não resisti) e principalmente para o Lourenço, pelo livro e por sua aparição iluminada.
Acho mesmo que o filme seria muito melhor se o próprio Lourenço vivesse o personagem principal. Claro, claro que o Selton Melo está bem (não, esse não é seu melhor momento, como repete a crítica desinformada desse país, não esqueçam de O Auto da Compadecida e Lavoura Arcaíca), mas o acho um erro para o filme, que ficasse só como produtor executivo.
No saldo final gostei dos filmes (mais do que os anteriores dos dois diretores) mas fiquei com uma ponta de remorso por não ter visto o filme do Barcinski.

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